Um beijo. Assim, um, único. Não o
primeiro, mas o beijo de estreia.
Bastava mesmo só um beijo? - pensou,
mordendo os lábios... Sentia ainda o
corpo vibrar, frenesi do beijo adolescente, o beijo, o re-contato. O beijo
beijado, sonhado por tantas noites, beijo abandonado (do qual desistira de vez!),
o beijo que já até aceitava que não viria mais. Foi o beijo esperado mais
alheio às suas expectativas!
Era como se voltasse no tempo...
Voltou no tempo, à época em que tudo
entre os amantes tinha um tempo certo: sorrisos, conversas pausadas, suspiros, mãos
que se tocavam “acidentalmente”, olhares flertivos, elogios tímidos... O
delicioso intervalo entre os encontros. O tempo-obstáculo que trazia saudade e
vontade de nunca afastar. O tempo-romance que fazia durar cada palavra, cada
perfume da presença alheia, quando bastava fechar os olhos para sentir de novo,
para ver... O tempo anti-tecnológico, não interrompido por
ligações, torpedos, e-mails... Ah, sim, o curioso tempo entre hoje e amanhã, o
desejo de mais, a dúvida da reciprocidade. Ou a certeza da mágica que reúne as
pessoas ao longo do tempo.
E o que fazer com aquele beijo? Esquecer? Guardar?
Encontraram-se antes e decerto encontrariam-se depois, mas agora, entre eles,
havia o beijo.
Por um minuto teve medo. Sentia medo
do gosto feliz nos lábios, do coração transbordando, medo da mão acarinhando o
cabelo. Medo de sentir o que quer fosse que não fizesse sentido...
Fechou os olhos. Voltou no
momento exato que se encontraram, sentiu de novo exatamente quando... Sorriu da
ironia. Para um único beijo, até que repetiu-se muitas vezes.